quarta-feira, 23 de abril de 2014

40 VEZES - No Pernambucano 100, o Sport entra para o clube dos quarentões



A caminhada rubro-negra no Campeonato Pernambucano alternou momentos de indiferença, decepção e brilho, exatamente nessa ordem. E foi por segui-la dessa forma que o Sport conquistou seu 40º título de campeão estadual. Mas é prudente explicar como cada um desses substantivos vai se encaixar na história dos vencedores. Esmagado entre as duas competições que ganharia, a comissão técnica precisou fazer escolhas no início. Portanto... Indiferença = forçou a barra naquela que terminaria primeiro, chegou a atuar com time reserva na segunda e entrou em campo com a cabeça noutro lugar. Decepção = consequência direta do período anterior. Perdeu pontos para equipes intermediárias, viu o Náutico vencê-lo duas vezes e esteve a três minutos não decidir um título, algo que não acontecia desde 2005. Brilho = quando venceu, o fez com autoridade, foi buscar uma classificação nos últimos minutos e dominou amplamente um tradicional rival nos dois jogos finais.




A INDIFERENÇA

Gritarias antecederam a estreia rubro-negra no Campeonato Pernambucano. A primeira rodada marcava o centenário Sport x Náutico para a Ilha do Retiro. A FPF pediu para colocá-lo numa segunda-feira, dia sem qualquer afinidade com o futebol. Os leões toparam desde que fosse invertido o mando de campo, já que alegavam prejuízo financeiro por jogar na data ingrata. O Náutico reclamou da inversão do mando. O rebuliço que já vinha grande desde a fase de classificação da Copa do Nordeste terminou com a FPF suspendendo o jogo. A primeira rodada, para o Sport, foi a segunda. Quatro dias antes de estrear no mata-mata do Nordestão, o Salgueiro veio ao Recife e perdeu por 4x0.

Depois de abrir vantagem sobre o CSA nas quartas, lá se vão os rubro-negros para Caruaru, agora com Eduardo Baptista efetivado no comando técnico. Atuação segura, 2x0 no placar e mais três pontos na sacola. O primeiro 'deixa pra lá' também teve como coadjuvante o outro caruaruense, o Central. Mas só com Rodrigo Mancha e o fominha Neto Baiano representando os titulares. Um insosso 1x1 para quebrar uma sequência de cinco partidas sem Magrão buscar qualquer bola no fundo das redes.

Finalmente no dia 27 de fevereiro o tão aguardado Clássico dos Clássicos viu a luz do dia. No caso, a luz da lua, já que o jogo foi à noite. Vindo do segundo jogo com o CSA, o Sport embalou sua terceira partida sem vitória. Caiu por 2x1. Mas caiu soltando cobras e lagartos em cima da arbitragem. Glaydson Leite, o homem do apito, não marcou dois pênaltis para os leões. No dia seguinte, admitiu o erro e entrou numa geladeira de onde ainda não saiu. A reabilitação veio a jato. Em 29 minutos de jogo, o Sport fez 3x0 num Santa Cruz que sequer conseguiu anotar a placa do caminhão que o atropelara.


 

A DECEPÇÃO

O primeiro jogo deste tópico também poderia entrar no final do anterior. Caruaru, numa quente tarde de domingo e dali a três dias um Santa Cruz sedento de vingança era tudo contra. O Sport realmente entrou com o corpo no Luiz Lacerda e o espírito na Ilha do Retiro, palco do clássico que se aproximava. Mas a superioridade era tamanha que duas investidas foram suficientes para garantir mais três pontos. O próximo compromisso não dava para repetir a ausência anterior e o treinador resolveu acionar novamente seus suplentes, capitaneados mais uma vez por Neto Baiano. O Salgueiro estava do outro lado do campo de olho na quarta vaga para disputar as semifinais. Foi para cima e primeiro contou com a mãozona do goleiro Saulo. Ele deu um passo à frente, o suficiente para apenas acariciar a bola que Pio cabeceara fraco. No segundo tempo, o zagueiro Aylton Alemão fez 2x0, placar que os rubro-negros ainda não haviam experimentado sob a batuta do segundo Baptista. Neto Baiano soltou uma bomba no fim do jogo, diminiu o placar e depois do apito final mostrou que o lado boquirroto também pode ferir quem está ao lado. "Depois não vão poder reclamar que não tiveram uma oportunidade".

Em tempo: a derrota custou a liderança do Estadual. E, se a cabeça já estava longe contra o Salgueiro, o que diremos sobre o segundo confronto com o Porto, desta vez na Ilha. do Retiro?! Praticamente em câmera lenta, o Sport arrastou-se no gramado à espera que algum coelho pulasse da cartola. Ele pulou, mas do apito de Luiz Cláudio Sobral na forma de um pênalti. Aílton foi derrubado por Mardley e Sobral apontou para a cal. Neto Baiano bateu e garantiu o esquálido 1x0. No dia seguinte, o Náutico perdeu para o Santa em plena Arena Pernambuco e, mesmo sem fazer força, os leões ganharam uma liderança de presente.

As duas rodadas seguintes eram a chance de despertar a fera. Afinal os adversários eram Santa e Náutico. Não adiantou: a final da Copa do Nordeste, que teimava em não chegar, já havia seduzido todo mundo. Com o Santa, o Sport foi dominado no primeiro tempo, viu o adversário pular na frente pela primeira vez no ano, mas, numa das poucas jogadas que deram certo, empataram o jogo. O 1x1 arrancado de forma burocrática serviu para manter a ponta, porém seria preciso confirmá-la no derradeiro jogo do hexagonal. O jogo com o Náutico mostrou novamente que o time rubro-negro só tinha estoque de concentração para 45 minutos. Dessa vez, foram os iniciais. Teve pressão, bola na trave, domínio territorial... Só não teve gol. Isso ficou para o alvirrubro Marcos Vinícius fazer no segundo tempo, decretar a segunda vitória na Ilha do Retiro na temporada e o técnico Lisca bradar: "É bom demais ganhar aqui!"


 

O BRILHO

Com o segundo lugar, o Sport faria uma inédita semifinal desde que esse tipo de disputa foi adotado no Pernambucano, em 2010. O adversário seria o Santa Cruz, que lhe tirara o título nos três anos anteriores, dois deles sem cerimônia em plena Ilha. Para piorar, o jogo ficaria encravado entre as duas decisões do Nordestão com a artilharia pesada do Ceará. O Sport venceu a primeira por 2x0. Foi para o Arruda no dia 6 de abril com a disposição de jogadores de xadrez, não de futebol. O Santa devolveu o atropelo do mês de março com o mesmo veículo: 3x0. A sorte é que o esdrúxulo regulamento previa que vitória mínima dos leoninos no jogo da volta levaria a decisão para as cobranças dos tiros livres diretos da marca do pênalti.

Como lembrado no parágrafo anterior, havia o Ceará no meio da história. O Sport venceu o primeiro jogo por 2x0 e, entre os dois confrontos com o Santa, foi ali em Fortaleza buscar uma taça. Para o segundo jogo com os corais, toda lista de situações estava posta: ressaca pela conquista, desgaste pela correria e concentração exaurida por tantos jogos exigindo atenção em máximo grau. Bastou a bola rolar para todas as teorias virarem pó. Os de vermelho e preto encurralaram os de vermelho, preto e branco durante 87 minutos. No 87º minuto o gol salvador saiu pelos pés do atacante Leonardo, aquele nome que dava calafrios nos corais na década de 1990. Nos pênaltis, Magrão segurou a cobrança de Carlos Alberto e Neto Baiano, acusado por um locutor cearense de 'frescar' quando marcou o gol de empate no Castelão, voltou a aliviar o abafado início de noite recifense, principalmente dos torcedores rubro-negros.

A decisão seria contra o Náutico, o maior algoz até então. Primeiro jogo na Ilha, palco onde há muito pouco o Sport fora invencível por uma década e agora já era chamado pelos alvirrubros, jocosamente, de 'Casa dos Festejos'. Para aumentar a tensão, seria a última chance no ano de evitar que sua casa virasse a Casa da Mãe Joana. O Náutico foi perigoso apenas uma vez no primeiro tempo. Somente Felipe Azevedo foi em três oportunidades e Neto Baiano em uma. De tão perdulário no primeiro tempo, esperava-se que o Sport fosse castigado no segundo. E o Náutico começou mais disposto a atacar, agora num 4-3-3 vertical, agudo. Com o perigo do lá e cá rondando, Neto Baiano e Patric foram eficientes. O primeiro ao fazer um belo pivô e apenas dizer ao lateral: "Solta o pé!" Patric soltou com estilo, de três dedos. Bola no canto de Alessandro e mão direita correndo o tronco na diagonal. Seria o esboço de uma faixa? Depois do jogo, ele disse que sim, mas uma faixa de artes marciais, embora essas sejam na horizontal e presas à cintura.

O gol baqueou o Timbu. O time arisco e voluntarioso durou apenas os 19 minutos que antecederam o gol leonino. Quem era de vermelho e preto retomou as rédeas do jogo. Tocou bem a bola, tentou abrir espaço e deu-se ao luxo de fazer de seu goleiro um espectador vip. Quando tudo caminhava para o placar mínimo, Renê pegou um rebote de escanteio. Durval estava ao lado da área e apontou para o seu pupilo mandar o chuveirinho. Renê, que não desobedece as ordens do capitão, mandou o lançamento. O xerife quase não saltou, apenas fez um movimento de cabeça para o lado, onde estava Neto Baiano. Ele dominou, protegeu e chutou na saída do goleiro. Apenas um minuto depois, o mesmo Durval deu condição para Marcelinho diminuir para o Náutico. Já eram 43 da etapa derradeira e Elan Vieira piscou o olho na hora imprópria. Não viu que o gol foi legal e anulou a jogada. Para sorte dele - e também do Náutico -, o regulamento não gostava de gol.





O último capítulo da história foi escrito ASSIM
 
CAMPANHA:

Hexagonal

12/2 - Sport 4x0 Salgueiro
19/2 - Porto 0x2 Sport
22/2 - Sport 1x1 Central
27/2 - Náutico 2x1 Sport
5/3 - Sport 3x0 Santa Cruz
9/3 - Central 0x2 Sport
16/3 - Salgueiro 2x1 Sport
22/3 - Sport 1x0 Porto
26/3 - Santa Cruz 1x1 Sport
30/3 - Sport 0x1 Náutico

Semifinal

6/4 - Santa Cruz 3x0 Sport
13/4 - Sport 1x0 Santa Cruz

Final

16/4 - Sport 2x0 Náutico
23/4 - Náutico 0x1 Sport


RESUMO

Jogos: 14
Vitórias: 8
Empates: 2
Derrotas: 4
Gols pró: 19
Gols contra: 10
Aproveitamento: 76,1%




Wladmir PaulinoDo NE10

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