segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Memória da TV. Há 40 anos, público acreditava que Silvio Santos era careca e solteiro



Por THELL DE CASTRO, em 14/12/2014 · Atualizado às 08h32

Conhecido por praticamente todos os brasileiros desde os anos 1960, Silvio Santos completou 84 anos na última sexta (12). Sua vida pessoal é cercada de mistérios até os dias de hoje, e a curiosidade do público a respeito dos hábitos do animador e empresário vem de longa data, desde os anos 1970.

Há quase 40 anos, em 28 de maio de 1975, Silvio Santos foi capa da revista Veja, maior revista de circulação nacional, o que lhe dava um novo status na mídia. A reportagem especial, intitulada O Misterioso Silvio Abravanel, procurou desvendar mitos em torno dele: se era casado, se era careca, entre outras indagações surgidas após material publicado pela revista Melodias, em 1971 (a foto com Silvio Santos careca era uma montagem destinada a "salvar" a revista, dirigida por Plácido Manaia Nunes, criador do Troféu Imprensa).


Naquela época, Silvio ficava no ar, ao vivo, 12 horas e meia por semana (aos domingos, das 11h às 20h, na Globo, e nas noites de quinta, na Tupi). "Há treze anos, num despretensioso programa dominical no horário do meio-dia às 2 da tarde, considerado até então inadequado para qualquer tipo de transmissão, ele começou a mostrar a um número cada vez maior de telespectadores sua indiscutível simpatia pessoal e uma invulgar capacidade de conduzir espetáculos", destacava o texto, citando seu primeiro programa, Vamos Brincar de Forca, na TV Paulista.


Silvio Santos em montagem da revista Melodias, publicada em 1971

"Para se recompor diante das câmeras de TV, que costumam queimar rapidamente seus ídolos, ele não necessita mais do que um pacote de bolachinhas, alguns goles de água e, eventualmente, um copo de vitamina. Evita, assim, a natural desidratação provocada pelo calor das luzes, único desgaste aparente que o trabalho lhe provoca", afirmava a reportagem, ressaltando que o animador tinha um cantinho no estúdio onde descansava por poucos minutos durante os vários quadros do programa.

Mas não pense que Silvio Santos era totalmente seguro de si. Ele contava com um monitor de televisão no meio da plateia, onde se exercitava falando para a sua própria imagem, abstraindo, por alguns momentos, a presença das pessoas do auditório.

"Os programas de auditório vão ser cada vez mais raros no futuro. Eu preciso me preparar para ter a mesma naturalidade, a mesma comunicação, sem depender do auditório. Comandar um programa com auditório para mim é muito fácil. Mas, sempre que falo só para a câmera, fico rouco, a musculatura do rosto fica tensa. Mas eu estou aprendendo". Nessa previsão, ele errou. Seu programa levou multidões aos estúdios nos anos 1980 e 1990 e está no ar até hoje, com plateia.

Potência econômica
A reportagem também destacou que, quando falava de suas empresas, o sorriso característico de Silvio Santos já não explodia tão fácil, sendo mais tenso. "E quando ele finalmente se refere ao movimento financeiro das empresas, parece absolutamente frio".

Aliás, o Grupo Silvio Santos já era uma potência e detinha organizações em diversos segmentos, que iam desde o tradicional carnê de mercadorias do Baú da Felicidade ao ramo agropecuário no Mato Grosso, faturando, em 1975, 1,2 bilhão de cruzeiros, mais do que a Embratel, a estatal das telecomunicações.

A reportagem listou como empresas do Grupo naquela época Silvio Santos S.A. (holding), BF Utilidades Domésticas S.A., Lojas Tamakavy S.A., Baú Financeira S.A., Estúdio Silvio Santos Ltda., Baú Seguradora S.A., Vimave Veículos Ltda., Baú Construtora Ltda., Baú Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários, Baú S.A. Corretora e Administradora de Seguros, Agropecuária Tamakavy S.A, Agropecuária Tiaipe S.A., Baú Agropecuária S.A., BF Comércio de Veículos Ltda., TV Studios Silvio Santos; Baú S.A. Corretora de Câmbio, Título e Valores Mobiliários e BF Parque Florestal.


O texto trazia números do sucesso do carnê do Baú, que teve 350 mil unidades vendidas em 1974: "A ideia do carnê acoplada ao Baú da Felicidade não foi de Silvio Santos. Já havia sido utilizada antes pela Cestas de Natal Amaral. Além disso, nos últimos 15 anos foram registradas no Brasil perto de 4.000 empresas do gênero. A imensa maioria delas sequer chegou a funcionar. Outros grupos economicamente fortes tentaram, mas se perderam no caminho. Hoje, no setor de carnês, Silvio Santos é praticamente o único”.

O apresentador na capa história da revista Veja, em 1975, que lhe deu status

O segredo do sucesso
Qual era o segredo do sucesso empresarial de Silvio Santos? "Correção, honestidade nos negócios, a organização, a boa assessoria. Todos os meus negócios não tiveram problemas porque seguiram esses fundamentos. E os poucos que não tiveram êxito nós abandonamos", declarou o próprio.

Naquele momento, sua luta era para conquistar um canal de televisão, que viria a ser a TVS, canal 11 do Rio de Janeiro. Brigavam pela concessão, além de Silvio Santos, empresas como a Bloch Editores, a TV Gazeta de São Paulo e o grupo gaúcho Caldas Jr., entre outros, de acordo com a Veja.

As revistas especializadas publicavam apelos de artistas e jornalistas para que o governo desse a concessão ao animador. A pressão deu certo _o canal entrou no ar dia 14 de maio de 1976 e viria a ser o embrião do SBT, que surgiu em 1981.

O que prometia quando tivesse um canal de televisão? A resposta: "A minha televisão será diferente de todas as que existem. Não dependerá de Ibope. Seria mesmo a televisão que o povo e o governo gostariam de ter no momento", declarou.

Sabemos que essa história não foi bem assim, principalmente na fase do SBT, mas ninguém pode negar que Silvio Santos tem um dom: praticamente tudo o que toca vira ouro.

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