quinta-feira, 26 de junho de 2014

Cachorros pretos são rejeitados na hora da adoção? Descubra o que é a “Síndrome de Black Dog”


Todos os meses, centenas de cachorros são resgatados das ruas e fazem fila para a adoção nos abrigos de animais ao redor do planeta. A cena seria corriqueira aos olhos dos funcionários dessas instituições, se eles não notassem, com certa frequência, que a maioria desses bichinhos que aguardam por um novo lar possuem pelagem preta.
Considerar a cor do pêlo de um animal na hora de levá-lo para casa pode parecer um assunto inusitado à primeira vista, mas trata-se de uma realidade mais comum do que se imagina. Apesar de ainda não constarem dados oficiais, diversas ONGs já perceberam certa resistência das pessoas quanto à adoção de cães pretos - comparável às dificuldades encontradas pelos cachorros mestiços e adultos em encontrarem uma nova casa, por exemplo. Trata-se da “Síndrome de Black Dog”.

Constatações mostram as realidades em diferentes lugares do mundo

A ONG Faros D’Ajuda, em Bragança Paulista, São Paulo, nunca fez estatísticas de adoção por cor, mas já observou que os animais de pelagem sólida preta ou que tenham a cor preponderante em seu pêlo são os que mais permanecem no abrigo. “Dando uma visão geral pelos canis coletivos, a cor preta é predominante”, contou Marcia Davanso, presidente da associação. Para ela, são eles os mais abandonados e menos adotados: “Isso acontece na adoção de adultos e de filhotes”, disse Marcia.

Em 2009, foram feitos estudos na organização Dumb Friends League, no Colorado, Estados Unidos. Os dados coletados mostraram que, dos 125 cães abandonados que residiam no abrigo no momento da análise, 50 eram da cor preta. E a pesquisa foi além: avaliou que, dos 13.298 cães recolhidos em um ano, 5.087 eram pretos ou tinham essa coloração na maior parte do corpo.

Uma síndrome em tons escuros que suscita vários palpites

O que não faltam são possíveis explicações para a “Síndrome de Black Dog” (ou, em bom português, a “Síndrome do Cachorro Preto”). Tentando entender melhor esse fato, Kristina Vourax, porta-voz da Dumb Friends League, a entidade pesquisada, disse acreditar se tratar de uma questão de percepção aos olhos dos visitantes dos abrigos. “Entre outros cães pretos, eles [cães escuros] acabam não se sobressaindo, como aconteceria com um Poodle ou um São Bernardo”, contou. Cory Vasquez, representante da Mountain Animal Center, no Colorado, Estados Unidos, compartilha dessa opinião e faz uma comparação interessante: “É como um supermercado”, diz. “Quem percorre os corredores, procurando por algo que se destaque, mal repara no preto. As pessoas procuram sempre os fofinhos, brancos com manchas marrons”, lamenta Cory.

Para Carlos Eduardo Pereira, coordenador de atividades do GAPA, de Petrópolis-RJ, isso pode ocorrer devido à maior disponibilidade de animais pretos nos abrigos. “Acho que talvez esta impressão decorra do fato da pelagem preta ser dominante e existirem muitos animais pretos oferecidos para doação”, disse ele. Carlos acredita que essa realidade não se trata de preconceito quanto aos cãezinhos escuros: “As pessoas se sentem atraídas por outros de pelagem clara, até por serem mais raros. Acho que buscam uma certa exclusividade. Mas preconceito, não”, ressaltou.
Márcia Davanso, da associação Faros D’Ajuda, também palpita outro fator que pode contribuir para a rejeição dos camaradinhas escuros: “se o animal de cor preta não estiver bem limpo e tratado, a pelagem tende a ficar feia e opaca e, isso, em um abrigo com canis coletivos, é impossível controlar”. Ela conta que, durante as visitas, as pessoas não expressam verbalmente a rejeição pelos cães pretos e raramente tecem comentários, mas a preferência pelos animais brancos e mais claros é nítida.

Estratégias para quebrar os estereótipos dos cães de pêlo preto

Enquanto cachorros brancos e dourados são mais requisitados, os pretinhos ficam às margens da adoção quando comparados aos animais de outras cores. Assim como os gatos pretos, os cães escuros também estão associados a algumas superstições e são relacionados a animais maus e potencialmente violentos. Diversos filmes transmitidos pela televisão e pelo cinema reforçam esses estereótipos (quantas vezes você já não viu Dobermans e Rotweilers sendo retratados como malvados nas telonas?).

Porém, o que não faltam são pessoas dispostas a mudar esse quadro. Desde adotantes em potencial até abrigos com atitudes para lá de criativas. Na ONG Dumb Friends Leagues, por exemplo, várias medidas são tomadas para incentivar a adoção de animais pretinhos. Lá, eles sempre ficam em canis de cores claras e com bandanas coloridas ao redor do pescoço para realçar o contraste de sua pelagem. Na Longmont Humane Society, cãezinhos claros e escuros nunca ficam no mesmo ambiente já que o animal de cor clara tende a se destacar em comparação ao mais escuro. Enquanto isso, na Humane Society de Colorado, os cachorros pretos que estão há bastante tempo no abrigo têm direito a atenção extra para brincarem, se distraírem e tentarem esquecer o tempo que já passaram no abrigo a espera de um lar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário