terça-feira, 28 de abril de 2015

Drogas e bipolaridade marcaram adolescência de brasileiro na Indonésia

Drogas e bipolaridade marcaram adolescência de brasileiro na Indonésia

A adolescência de Rodrigo Muxfeldt Gularte ainda começava quando a mistura de drogas e bipolaridade apresentava seus efeitos.
Diz a mãe Clarisse, de 70 anos, que os sinais vieram aos poucos. "Ele tinha um comportamento razoável. Mas, com o passar do tempo, foi mudando as atitudes. E a gente quase não percebeu".
Foi esta combinação que, segundo a família, levou Gularte à viagem que terminou com sua condenação à morte na Indonésia, por tráfico de drogas.
Preso em 2004 com 6 kg de cocaína escondidos em pranchas de surfe, ele foi executado por fuzilamento na tarde desta terça-feira (horário de Brasília).
Natural de Foz do Iguaçu de uma família de classe média alta, Gularte teve o surfe como esporte preferido. Parentes e conhecidos falam de um rapaz alto, gentil e educado, mas envolvido com drogas desde jovem.
A infância foi "feliz e normal", disse a mãe. A BBC Brasil conversou com ela por telefone em fevereiro, enquanto visitava Gularte pela última vez na Indonésia. Disse que seu "coração sangrava".
As mudanças teriam começado aos 13 anos, mas pioraram quando os pais se divorciaram, diz a prima Angelita Muxfeldt, que esteve na Indonésia nos últimos três meses para tentar reverter a condenação do brasileiro.
O primeiro tratamento contra a dependência de drogas foi aos 16 anos, quando parentes dizem ter percebido indícios de bipolaridade. Outros viriam, sem sucesso.
A depressão, aliada ao uso de drogas, só fez Gularte piorar, conta Angelita.
Clarisse tentou ajudar o filho com trabalho. Gularte ganhou, por exemplo, um restaurante para administrar, pago pela mãe. Teve ainda um filho, com autismo, hoje com 21 anos, com quem pouco se relacionou.
Mas o contato com as drogas, de todos os tipos, continuou intenso.
A mãe e a prima visitaram o paranaense com frequência nos últimos dez anos. Com o pai, o médico Rubens, a relação foi só por cartas ou telefone, segundo a família.

Enredo de filme

A viagem que fez ao país asiático foi "uma tragédia", diz a mãe. A prima fala em "erro imenso". Para a família, ele foi aliciado por traficantes internacionais, que se aproveitaram dos seus problemas mentais.
O que aconteceu após sua prisão poderia virar filme.
Ao ser pego no aeroporto de Jacarta, estava com outras duas pessoas, que escaparam e voltaram ao Brasil. Gularte assumiu responsabilidade por toda a droga que era levada, segundo Angelita.
A mãe e a prima chegariam à Indonésia uma semana após a prisão. Um advogado se ofereceu para defender Gularte ainda no aeroporto.
"Nós ligamos para esse advogado, ele veio até o nosso hotel e perguntou: 'Vocês querem ver o Rodrigo?'", diz Angelita.
Era por volta das 21h, diz. "'Mas é possível?' eu perguntei. Ele deu um telefonema e disse: 'Vamos'. Chegamos na prisão, ele mandou o Rodrigo vir, o vimos e conversamos com ele. O advogado nos mostrou que era influente".

A família ficou impressionada. Pagou pelo advogado, mas ele fugiu com o dinheiro. Perdeu prazos e recursos e, no julgamento, não apareceu.

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