A convite da Warner, Cris Camargo viu uma exibição exclusiva.
Em respeito aos leitores sua resenha NÃO possui spoilers.
Godzilla surgiu há sessenta anos como uma metáfora da tragédia nuclear no Japão. O monstro levou todo o tipo de bomba na cabeça e enfrentou exércitos, aliens e dezenas de kaijus ao longo de seus 28 filmes.
Quase sucumbiu a uma tragédia cinematográfica em 1998, uma iguana choca do diretor Rolland Emmerich, hoje relegada ao desprezo pelos fãs. Mas o lagartão mostrou que é mais forte e agora retorna aos cinemas em uma versão atualizada e digna de quem é considerado o Rei dos Monstros. Sim, senhoras e senhores: Godzilla está de volta.
O diretor britânico Gareth Edwards – fã do personagem desde criança – é quem finalmente dá a Godzilla uma versão americana de respeito, principalmente no tratamento ao personagem. Foi um alívio confirmar que um dos maiores ícones da cultura pop agora está em boas mãos.
Trama atualizada, mas com referências
O filme começa em 1954, com um flashback através de imagens de arquivo mostrando que alguma coisa pré-histórica foi desperta no mar do Japão. A história salta para 1999, quando o Dr. Ishiro Serizawa (Ken Watanabe), da organização Monarch, visita um canteiro de obras nas Filipinas onde operários descobriram uma caverna formada por um gigantesco esqueleto fossilizado. Dentro dela encontram um casulo – aparentemente também fossilizado. Serizawa e sua ajudante descobrem que na verdade eram dois, e seja lá o que for que saiu do maior deles arrombou a caverna e abriu caminho em direção ao oceano.
Enquanto isso, no Japão, o físico Joe Brody (Bryan Cranston, absolutamente FANTÁSTICO) trabalha com sua esposa Sandra (Juliette Binoche) na usina nuclear de Janjira. Os dois têm um filho pequeno chamado Ford. Joe está preocupado com a atividade sísmica cada vez mais frequente na região, que pode afetar a usina, mas ninguém lhe dá ouvidos. A usina é destruída por algo que a princípio parece um terremoto. Sandra morre, a radiação se espalha (referências a Chernobyl e Fukushima), a cidade é evacuada e as autoridades alegam que o acidente foi causado por um desastre natural.
bryancranstonQuinze anos depois, Ford (numa atuação ruim de Aaron Taylor-Johnson) se torna soldado e pai de família.
Em São Francisco, Ford recebe um telefonema avisando que Joe foi preso ao tentar invadir a área de quarentena de Janjira. Quando o filho vai ao encontro do pai para libertá-lo,  Ford, que continua obcecado em descobrir a verdade, explica que nos últimos dias seu monitoramento detectou a emissão de ondas eletromagnéticas cada vez mais fortes na região. Ele convence o filho a acompanhá-lo à área de quarentena,  o que restou de sua antiga residência abandonada, mas são presos e levados para a central da Monarch, onde Joe encontra o Dr. Serizawa. Aos poucos a verdade se torna impossível de esconder, ou melhor dizendo, de conter. Joe não estava louco. Só que já era tarde demais.
O filme é um espetáculo visual, tecnicamente perfeito. O CGI é incrível e a edição de som faz com que você sinta o peso dos monstros. Isso sem falar nos rugidos. Não é preciso dizer que este filme precisa ser visto no cinema, na maior tela e com o melhor som possível.
Detalhes dos monstros, não revelados em trailersclips e spots, trarão mais impacto das cenas de luta, já que as criaturas são assustadoras, e responsáveis pelas melhores cenas de mortes e destruição. A trilha sonora de Alexandre Desplat faz uma moldura competente e bonita ao filme.
A direção de Gareth Edwards evoca – e muito – clássicos de Steven Spielberg, como Tubarão, sugerindo em vez de escancarar tudo desde o início, provocando a plateia e fazendo a tensão e a expectativa crescente. Edwards já havia acertado em apresentar criaturas através da perspectiva humana em Monstros — e sua ideia  funciona melhor ainda em Godzilla, principalmente na sequência da Golden Gate. Impossível não se sentir dentro da cena.
Já Godzilla está mais realista do que nunca. Além de acertar no design, Gareth Edwards manteve a personalidade e os poderes do Big G. Este Godzilla é uma mistura de todas as encarnações do personagem ao longo de 28 filmes. As referências à franquia japonesa estão espalhadas e vão agradar aos fãs antigos.
Bryan Cranston e Juliette Binoche estão fantásticos, mas seus personagens não passam do primeiro ato, deixando o resto do filme para um elenco que não consegue cativar o espectador. Aaron Taylor-Johnson e sua cara permanente de pastel é péssimo. Boa parte do drama humano perde totalmente o impacto por conta de sua inexpressividade. Não poderiam ter escolhido ator pior para um papel tão importante. Você simplesmente não consegue torcer pelos personagens humanos. Por fim,  não chega a ser um ponto fraco, mas é preciso dizer que o 3D é dispensável.
Godzilla é um reboot digno do personagem, um ícone da cultura pop mundial que completa 60 anos.
O filme consolida um merecido renascimento não apenas para o monstro, mas também para todo um gênero cinematográfico em um caminho pavimentado por Círculo de Fogo (Pacific Rim) em 2013.
Além de corresponder à maioria das expectativas, deixa um forte gosto de “quero mais”, e claro, seu final abre inúmeras possibilidades de continuações e até mesmo de uma nova franquia.
http://revistaogrito.ne10.uol.com.br/